sexta-feira, 9 de novembro de 2012

SERELAXINA - UM NOVO TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA

   Insuficiência cardíaca (IC) aguda continua sendo um grande problema de saúde pública com prognóstico ruim na maioria das vezes. Além disso, os tratamentos disponíveis até o momento para IC aguda são limitados e poucos estudos mostraram benefícios comprovados nessa situação clínica. 
   A relaxina é um hormônio endógeno encontrado em homens e mulheres, cujas concentrações aumentam durante a gestação como um mediador adaptativo diminuindo a resistência vascular sistêmica e aumentando o débito cardíaco e o fluxo sanguíneo renal. Além disso, esse hormônio apresenta propriedades anti-inflamatórias, anti-isquêmicas e anti-fibróticas. Um agente sintético análogo da relaxina - a serelaxina - foi testado previamente em um estudo de fase II mostrando segurança e potenciais benefícios em pacientes com insuficiência cardíaca aguda.
   O RELAX-AHF, apresentado recentemente no Congresso da AHA,  foi um estudo multicêntrico, duplo-cego, placebo controlado, que randomizou 1161 pacientes hospitalizados por IC aguda para receber, em até 16 horas da admissão hospitalar, infusão endovenosa de serelaxina na dose de 30 mcg/kg/dia por 48 horas ou placebo, com objetivo de testar a eficácia e segurança da serelaxina em pacientes com IC aguda, todos os pacientes precisavam ter dispneia, sinais de congestão e níveis elevados de BNP ou NT-ProBNP, além de pressão arterial sistólica > 125 mmHg e discreto a moderado comprometimento renal (TFG 30-75 ml/min/1,73 m2). Os desfechos primários foram relacionados a melhora de sintomas de dispneia. Os  secundários foram: (1) morte cardiovascular ou re-hospitalização por IC ou insuficiência renal (IR) em até 60 dias, (2) sobrevida em 60 dias.
   Os pacientes que receberam serelaxina apresentaram um melhora significativa de 19% nos sintoma de dispneia por um dos desfechos primários (escala visual - área sob a curva) após o 5o dia de randomização (p =0,0075). O segundo desfecho primário de avaliação de dispneia (Likert) não atingiu significância estatística nas primeiras 24 hs (p=0,08). Nenhum dos dois desfechos secundários pre-especificados em até 60 dias da randomização apresentaram diferença estatisticamente significante entre o grupo serelaxina e placebo. 
   Por outro lado, em 180 dias, ocorreram 55 mortes por doença cardiovascular no grupo placebo contra 35 eventos no grupo serelaxina (HR 0,62, IC95% 0,40-0,95, p=0,03) com um NNT de 29 para se evitar uma morte com o uso de serelaxina. Mortalidade por todas as causas foi significativamente menor no grupo serelaxina (HR 0,63, IC 95% 0,43-0,93, p=0,02) em 180 dias. A serelaxina diminuiu ainda taxas de piora de IC intra-hospitalar e de piora de IR, diminuiu sinais objetivos de congestão, uso de drogas vasoativas e quase um dia a menos de internação comparado com o grupo placebo. A droga mostrou ainda benefícios na diminuição de biomarcadores como NT-proBNP, troponina, TGP e creatinina. As taxas de hipotensão em até 5 dias da randomização foram semelhantes nos dois grupos - 4,4% no grupo serelaxina e 4,9% no grupo placebo. Outros eventos adversos ocorridos foram semelhantes entre os dois grupos.
   A serelaxina foi eficaz na diminuição de sintomas de dispneia em 5 dias após a infusão endovenosa de 30 mcg/kg/dia por 48 horas em pacientes com IC aguda, sinais de hipervolemia e pressão arterial normal ou elevada. 
   O estudo mostrou resultados promissores com relação a diminuição de mortalidade em 180 dias com o uso de serelaxina, além de melhora de sinais de congestão e diminuição de piora de IR em relação ao placebo. Além disso, a droga mostrou-se segura com poucos eventos de hipotensão arterial associados a medicação.
   Dessa forma, o estudo mostra benefícios com uso da serelaxina em pacientes com IC aguda, principalmente em alivio de sintomas, porém teremos que aguardar outros estudos que validem a hipótese de melhora de desfechos duros com o uso dessa medicação promissora.
Referência: Cardiosource

Nenhum comentário:

Postar um comentário