sábado, 6 de abril de 2013

ASSOCIAÇÃO ENTRE GLICEMIA ELEVADA E MORTALIDADE NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA.

   Este estudo publicado recentemente na revista JACC Vol. 61, No. 8, 2013, avaliou os níveis de glicemia em pacientes com insuficiência cardíaca (IC) aguda e os correlacionou com a mortalidade em 30 dias, e concluiu que a glicemia é um forte marcador prognóstico na IC aguda. Outros marcadores de mal prognóstico já são conhecidoS, como hipotensão, o grau de disfunção ventricular e elevação de biomarcadores de injúria miocárdica, entre outros. As alterações nos níveis glicêmicos também  estão relacionadas com maior mortalidade no infarto agudo do miocárdio e AVC, porém sua correlação prognóstica  não tinha ainda sido avaliada na IC aguda.
   Foi um estudo multicêntrico internacional, que incluiu pacientes admitidos na sala de emergência por IC aguda. Eram elegíveis pacientes com primeira descompensação da IC ou com IC crônica com agudização. Estes pacientes tiveram vários dados avaliados: glicemia sérica, medidas antropométricas, comorbidades, como diabetes e uso de hipoglicemiantes, avaliação ecocardiográfica e taxa de filtração ventricular. O desfecho primário foi mortalidade por qualquer causa em 30 dias.
   Foram avaliados 8.213 pacientes e incluídos 6.212, com média de idade de 74,1 (65 – 80) anos. Cerca de 52,4% era do sexo masculino, e 40% tinha antecedente de diabetes. Metade dos pacientes se apresentou com primeira descompensação da IC, a fração de ejeção média foi de 40%. Os pacientes foram divididos em dois grupos: glicemia elevada à admissão (2.821) e glicemia normal (3.391). A média da glicemia foi de 135 mg/dL.
   Ocorreram 618 (10%) óbitos em 30 dias. A média da glicemia entre os pacientes que foram a óbito era maior que a média daqueles sobreviveram (8,9 [6,7 - 13,2] vs 7,4 [5,8 -10,3] mmol/l; p < 0,0001). Após ajuste, a glicemia foi um fator de risco para mortalidade em 30 dias (RR 2,19; IC 95%: 1,68 – 2,83; p<0,001). O risco associado com a glicemia aumentada parece ser consistente em pacientes com fração de ejeção preservada (RR 5,41; IC 95%: 2,44 – 12; p < 0,0001) e disfunção ventricular (RR 2,37; IC 95%: 1,57 – 3,59; p < 0,0001).
   Esta coorte multinacional de pacientes com IC aguda, mostrou que um nível elevado de glicose no sangue é comum e um poderoso marcador de risco, prevendo a morte dentro de 30 dias. Estes resultados são consistentes com os da literatura que ligam um nível elevado de glicose no sangue com lesão miocárdica, o desempenho do miocárdio prejudicada, arritmia e risco de remodelamento ventricular. A hiperglicemia pode, diretamente, levar a injúria miocárdica por diversos mecanismos já descritos na literatura, o que poderia explicar os resultados do estudo. Entretanto, os aumentos dos níveis de glicose na IC aguda podem ser uma conseqüência do estresse, devido à ativação do sistema nervoso simpático, que leva ao aumento de cortisol e, consequentemente, à hiperglicemia. Os mecanismos através dos quais a hiperglicemia se correlaciona a aumento de mortalidade na IC aguda ainda não puderam ser esclarecidos neste estudo, por isso novas pesquisas devem ser realizadas a fim de entendermos melhor a fisiopatolodia de tal correlação.

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