Autora: Dra. Mônica Ávila.
Fundamento: Atualmente, nenhum tratamento se mostrou eficaz na redução de mortalidade de pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP). As diretrizes não recomendam um tratamento específico e sim orientam em relação a princípios de tratamento, como controle da pressão arterial, manutenção da contração atrial, redução da frequência cardíaca e identificação dos fatores de risco.
Objetivos: O objetivo primário do estudo foi determinar se a espironolactona é superior ao placebo em melhorar a capacidade ao exercício e a função diastólica em pacientes com ICFEP. O objetivo secundário incluiu uma avaliação dos efeitos da espironolactona em parâmetros cardiopulmonares no exercício e em medidas ecocardiográficas.
Métodos: Foi um estudo multicêntrico, randomizado, duplo cego e controlado por placebo. Os critérios de inclusão foram: pacientes em classe funcional NYHA II ou III, fração de ejeção do ventrículo esquerdo > 50%, evidência de disfunção diastólica no ecocardiograma ou fibrilação atrial, VO2 pico < 25 ml/Kg/min e idade > 50 anos. Os pacientes que preencheram os critérios foram randomizados para receber espironolactona 25 mg/dia ou placebo, e foram acompanhados por 12 meses.
Resultados: Foram incluídos 422 pacientes. A espironolactona melhorou de forma significante a função diastólica nos pacientes com ICFEP, avaliada pelas medidas do doppler tecidual (E/e' e outras medidas ecocardiográficas), mas não apresentou benefício nas demais variáveis, como capacidade máxima ao exercício, classe funcional NYHA ou qualidade de vida após 1 ano. Os efeitos adversos mais comuns foram elevação do potássio e piora da função renal.
Houve uma queda da pressão arterial com a espironolactona, porém o benefício da droga se manteve mesmo após o ajuste estatístico para pressão arterial, mostrando um efeito independente da medicação na melhora da função diastólica.
Conclusões e Perspectivas: O uso da espironolactona melhorou a função diastólica em pacientes com ICFEP, porem não melhorou as medidas no teste de esforço, os sintomas ou a qualidade de vida dos pacientes. Na ICFEP ocorre um aumento da produção de aldosterona renal e cardíaca, promovendo hipertensão, hipertrofia de VE, disfunção endotelial e mudança na matriz extracelular que podem levar à disfunção diastólica. O efeito da aldosterona é independente dos níveis plasmáticos de angiotensina II, o que poderia explicar os resultados negativos obtidos em estudos prévios com os IECA e BRA na ICFEP. Esse estudo demonstrou que a aldosterona pode ser uma droga promissora para o controle da disfunção diastólica, porem não apresenta impacto nos sintomas. O autor do estudo, o Dr. Burket Pieske, acredita que este achado discrepante possa ser explicado pelo curto tempo de seguimento dos pacientes e ressalta que está em andamento outro ensaio clínico, o TOPCAT (Treatment of Preserved Cardiac Function Heart Failure with an Aldosterone Antagonist), que avaliará o uso da espironolactona na ICFEP, com um numero maior de pacientes (cerca de 4500) e com um seguimento de mais de 2 anos. Esse ensaio poderá responder algumas das questões que ainda ficam pendentes em relação ao tratamento da disfunção diastólica na insuficiência cardíaca.
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