quarta-feira, 25 de julho de 2012

FREQUÊNCIA CARDÍACA ALVO OU DOSE ALVO DE BETABLOQUEADOR NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA? QUAL A MELHOR?

   Os beta-bloqueadores são pedras angulares na terapia da insuficiência cardíaca (IC). Eles bloqueiam os efeitos deletérios da estimulação simpática, que compromete a função e sobrevivência dos miócitos, causa isquemia miocárdica, arritmias, e estimulam a secreção de renina.
   Os ensaios clínicos em pacientes com insuficiência cardíaca teveram como objetivo titular a dose alvo dos beta-bloqueadores e não a frequência cardíaca (FC) que é um dos critérios de betabloqueio. Uma meta-análise que avaliou vários estudos sugeriu uma tendência para um melhor efeito nas doses mais elevadas, mas não sobre a FC. Por outro lado, as doses mais elevadas foram associadas com mais eventos adversos. Análises do CIBIS II e MERIT, sugerem que a FC alcançada, em vez da dose do beta-bloqueador é o principal determinante do efeito do mesmo.
   Estudos clínicos epidemiológicos também sugerem que a FC em repouso elevada, está associada a um risco aumentado de eventos cardiovasculares e um prognóstico adverso. Se a redução da FC é um mediador importante das vantagens dos beta-bloqueadores, outros medicamentos que reduzem a FC também podem ser usados, principalmente naqueles em que os beta-bloqueadores são contra-indicados. O estudo SHIFT mostrou benefícios na redução de eventos cardiovasculares, internamentos e mortalidade quando a FC nos portadores de IC era reduzida para níveis inferiores a 70 bpm, mesmo naqueles pacientes que já vinham em uso de betabloqueadoes.
   O presente estudo, buscou determinar se a dose do betabloqueador ou a FC foi mais importante na diminuição da mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca crónica estável (ICC). Foram selecionados pacientes, numa clínica de ICC, com fração de ejeção ≤ 40%, que estavam em ritmo sinusal, numa avaliação inicial, com 4 e 36 meses. Foram avaliados a FC e a dose do beta-bloqueador. Dos 654 pacientes elegíveis, 381 (58%) foram iniciados beta-bloqueadores antes da visita inicial, aumentando para 537 (82%) na segunda visita. Durante o seguimento, 142 (22%) pacientes foram ao óbito. Nem a FC de repouso, nem a dose do beta-bloqueador foram preditores de mortalidade (P ¼ 0,09 e P ¼ 0,99), na primeira visita (4 semanas), mas FC de repouso foi um preditor de diminuição da mortalidade na segunda visita, 36 semanas (P ¼ 0,02). O uso de betabloqueadores na segunda visita foi associado com melhores resultados (P = 0,03), mas com pouca variação no resultado de acordo com a dose. Os pacientes com freqüência cardíaca de 58 a 64 bpm tiveram o melhor prognóstico.
   De acordo com este estudo a FC é um fator de risco potencialmente modificáveis ​​em pacientes com IC estável que estão em ritmo sinusal. Foi observado uma relação em forma de J entre a FC e mortalidade, com um nadir de mortalidade na FC de repouso em torno de 55-65 bpm, mas com um aumento substancialmente nas FC mais lentas. Baseado neste estudo pode ser inadequado titular a dose alvo de betabloqueadores se a FC estiver abaixo de 55 bpm. Essa relação exige confirmação em outros estudos. A procura de uma dose alvo de beta-bloqueador pareceu menos importante. A sobrevivência foi semelhante em doentes que tomaram doses baixas e moderadas, ou alvo de beta-bloqueador. Isto sugere que a titulação de betabloqueadores e agentes cardíacos com objetivo de alcançar uma freqüência cardíaca ideal pode ser o mais apropriado.
Referência: European Journal of Heart Failure (2012)

terça-feira, 17 de julho de 2012

MIOCÁRDIO NÃO COMPACTADO

   A não compactação do ventrículo esquerdo ou "miocárdio esponjoso", é uma cardiomiopatia congênita rara que pode ser diagnosticada em qualquer idade. É caracterizada por uma camada fina e compactada epicárdica e uma camada não-compactado extensa endocárdica, com trabeculação proeminente e recessos profundos que se comunicam com a cavidade do ventrículo esquerdo, mas não com a circulação coronária, provavelmente devido a uma prisão de compactação durante vida intra-uterina. Ele pode ser isolado ou associado com outras doenças congênitas. Com base em estudos ecocardiográficos, a prevalência relatada é entre 0,014 e 1,3% na população em geral. Esta condição pode potencialmente levar à insuficiência cardíaca crônica, arritmias ventriculares fatais e acidentes embólicos sistêmicos.
   A tríade clássica de complicações - insuficiência cardíaca, arritmias ventriculares e eventos embólicos sistêmicos - são comuns em pacientes com doença avançada, sendo pouco frequente nos quadros iniciais. Oechslin et al relatou que em um grupo de 34 adultos com não compactação do ventrículo esquerdo, a presença de maior diâmetro diastólico final do ventrículo esquerdo, fração de ejeção reduzida, classe funcional III-IV (New York Heart Association), persistente ou permanente fibrilação atrial e bloqueio de ramo, foram relacionadas com alto risco e de prognóstico reservado, chegando-se a considerar a possibilidade de implantação de um cardiodesfibrilado e avaliação para o transplante. A mortalidade foi semelhante nos pacientes com a não compactação do ventrículo esquerdo comparados com os portadores de  cardiomiopatia dilatada não-isquêmica (3 anos de sobrevivência de 85 a 83%). 
   O ecocardiograma é a ferramenta padrão para o diagnóstico, a ressonância magnética pode confirmar ou descartar esta doença quando o ápice é de difícil visualização ao ecocardiograma. O diagnóstico exige o estudo de familiares, e talvez, o aconselhamento genético. Devido à alta prevalência de doenças neuromusculares relatadas em pacientes com miocárdio não compactado, avaliações neurológicas e músculo-esqueléticas são recomendados.
Referência: EJC-ESC

terça-feira, 10 de julho de 2012

TERAPIA ANTI-TROMBÓTICA NA ICC COM RITMO SINUSAL.

   A insuficiência cardíaca crônica (ICC) com fração de ejeção preservada ou reduzida são comuns e continuam a ser doenças graves com alta mortalidade e morbidade. Muitas complicações relacionadas com a IC pode ser relacionado com a trombose. Os dados epidemiológicos e fisiopatológicos associam a IC com aumento do risco de trombose, levando a consequências clínicas graves como a morte súbita, acidente vascular cerebral, tromboembolismo sistêmico e / ou venoso. Este documento de consenso da Heart Failure Association (EHFA) da Sociedade Européia de Cardiologia (ESC) e do Grupo de Trabalho sobre Trombose ESC revisou as evidências publicadas e resumiu as melhores práticas, e propõe consensos que podem ajudar a definir e apoiar decisões na prática clínica diária. Em pacientes com IC e fibrilação atrial, a anticoagulação oral é recomendada, de acordo com a pontuação do  CHADS 2-VASC e o risco de sangramento pelo HAS-BLED, estes escores devem ser usados para determinar a relação do provável risco-benefício (prevenção tromboembolismo e risco de hemorragia) da anticoagulação oral.  Nos pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida que estão em ritmo sinusal, não há nenhuma evidência de um benefício geral dos antagonistas da vitamina K (ex: varfarina) sobre a mortalidade, com maior risco de sangramento. Apesar do potencial para uma redução do AVC isquêmico, não existe atualmente nenhuma razão convincente para se usar warfarin rotineiramente nestes  pacientes. Fatores de riscos associados com risco aumentado de eventos tromboembólicos devem ser identificados e as decisões a respeito do uso de anticoagulação individualizadas. Valores e preferências do paciente são determinantes importantes na avaliação do risco de tromboembolismo contra risco de sangramento. Novos anticoagulantes orais que oferecem um perfil de risco-benefício diferente em comparação com a varfarina podem aparecer como uma opção terapêutica atraente, mas isso precisa ser confirmada em ensaios clínicos.
Referência: EJHF

quarta-feira, 4 de julho de 2012

ATIVIDADE SEXUAL E DOENÇAS CARDIOVASCULARES..

    A atividade sexual é um componente importante da qualidade de vida dos homens e mulheres com doença cardiovascular (DCV). A diminuição da função e atividade sexual são comuns nestes pacientes e estão muitas vezes relacionados à ansiedade e depressão. A intenção da American Heart Association (AHA) foi sintetizar e resumir os dados relevante para a atividade sexual e doenças do coração, a fim de fornecer recomendações aos médicos e outros  profissional da saúde com relação a atividade sexual dos mesmos. Recomendações contidas neste documento foram feitas por especialistas de diversas áreas, incluindo cardiologia, fisiologistas, urologistas, e especialistas em aconselhamento sexual. De modo geral, estas recomendações demonstram que a atividade sexual é segura para pacientes com doença cardíaca. As diretrizes apontam que os únicos pacientes que devem se abster de sexo são aqueles com doença cardíaca instável ou sintomas graves, que devem ser avaliados e estabilizados adequadamente, antes de praticar qualquer atividade sexual. Numerosos estudos têm examinado a resposta cardiovascular e neuroendócrina durante  a excitação e relação sexual. Nos preliminaresa pressão arterial sistólica, diastólica e a frequência cardíaca aumentam levemente, com aumentos mais modestos ocorrendo transitoriamente durante a excitação sexual. Os maiores aumentos ocorrem nos 10 a 15 segundos do orgasmo, com rápido retorno aos valores basais. Homens e mulheres têm as respostas neuroendócrinas semelhantes. Estudos realizados principalmente em homens jovens casados ​​mostraram que a atividade sexual com o parceiro habitual é comparável a uma pequena a moderada atividade física, correspondendo a 3 a 4 equivalentes metabólicos (METs), isto equivalente a subir dois lances de escadas ou caminhada de curta duração. A freqüência cardíaca raramente excede os 130 bpm e a pressão sistólica raramente ultrapassa 170mmHg em indivíduos normotensos.
   Recomendações gerais:
1. Mulheres com doenças cardiovasculares devem ser orientados sobre a segurança e a conveniência dos métodos contraceptivos e gravidez, quando apropriado (Classe I, Nível C).
2. Os pacientes cardiopatas que desejam iniciar ou retomar a atividade sexual devem ser avaliados com uma história médica e exame físico completos (Classe IIa, Nível C).
3. A atividade sexual é permitida para cardiopatas com baixo risco de complicações cardiovasculares (Classe IIa, Nível B)
4. O teste ergométrico pode ser considerado para pacientes com risco cardiovascular moderado, alto ou desconhecido para avaliar a capacidade física no exercício e o desenvolvimento de sintomas, isquemia ou arritmias concomitantes (Classe IIa, Nível C).
5. A atividade sexual é permitida para pacientes que podem exercer mais de 3 a 5 METS sem dispneia, angina, alterações isquêmicas do segmento ST, cianose, hipotensão ou arritmia (Classe IIa, Nível C)
6. A reabilitação cardíaca e o exercício físico regular podem ser úteis para reduzir o risco de complicações cardiovasculares durante a atividade sexual (Classe IIa, Nível B)
7. Pacientes com instabilidade hemodinâmica, doença cardíaca descompensada e/ou grave devem adiar a atividade sexual até estabilidade clínica, assim como aqueles que apresentam precipitação dos sintomas com a atividade sexual (Classe III, Nível C).
8. Doença arterial coronária
• A atividade sexual é considerada segura para pacientes com angina estável crônica de fraca intensidade (Nível de Evidência B), com uma ou mais semanas pós-IAM sem disfunção ventricular e sem sintomas à atividade física moderada (Classe IIa, Nível C), e contra indicada na angina instável ou refratária.
• A atividade sexual para pacientes submetidos a revascularização coronária completa é bem estabelecida (Classe IIa, Nível B), podendo ser retomada poucos dias após angioplastia, se o acesso vascular foi sem complicações (Classe IIa, Níve C) ou 6 a 8 semanas após cirurgia de revascularização miocárdica, desde que a esternotomia apresente sinais de boa cicatrização (Classe IIa, Nível B)
• Para pacientes com revascularização incompleta, o teste ergométrico pode ser considerado para avaliação da extensão e gravidade da isquemia residual (Classe IIb, Nível C).
9. Doença Valvar
• Não há contra-indicações para pacientes com doença cardíaca valvar leve ou moderada e sem sintomas ou com sintomas leves, além dos pacientes portadores de próteses valvares normofuncionantes (Classe IIa, Nível C)
• A atividade sexual não é recomendada para pacientes com doença valvular grave ou muito sintomática (Classe III, Nível C).
10. Portadores de arritmia e marcapasso
• A atividade sexual é “permitida“ para pacientes com fibrilação atrial ou flutter atrial com resposta ventricular controlada (Classe IIa, Nível C), somado aos pacientes portadores de história de taquicardia atrioventricular por reentrada nodal, reentrada atrioventricular ou taquicardia atrial controladas (Classe IIa, Nível C), portadores de marca-passos (Classe IIa, Nível C), portadores de CDI para prevenção primária (Classe IIa, Nível C) e para prevenção secundária, desde que não haja precipitação de eventos de TV ou FV em avaliação de estresse físico com mais de 3 a 5 METS ou com história de choques apropriados frequentes (Nível C )
• A atividade sexual deve ser contra-indicada para pacientes com fibrilação atrial com alta resposta ventricular, ou com arritmias sintomáticas ou induzidas por exercício (Classe III, Nível  C).
11. Outras recomendações
• A segurança dos Inibidores da PDE5 (tipo sidenafila) em pacientes com estenose aórtica grave ou cardiomiopatia hipertrófica é desconhecida (Classe IIb, Nível C). Pacientes que fazem uso crônico de nitrato não devem fazer uso destas medicações (Classe III; Nível B)
• Nitratos não devem ser administrados a pacientes dentro de 24 horas do uso de sildenafil ou vardenafil, e dentro de 48 horas do uso de tadalafil (Classe III, Nível B)
• O uso de estrogênio local ou tópico para o tratamento da dispareunia em mulheres com DCV pode ser considerado (Classe IIa, Nível C), porém, o uso medicamentos fitoterápicos com ingredientes desconhecidos devem ser desencorajados para o tratamento de disfunção sexual em pacientes cardiopatas (Classe IIb, Nível C). 
Referência:  Sexual Activity and Cardiovascular Disease: A Scientific Statement From the AHA. Circulation. 2012 Jan 19.